sexta-feira, 27 de novembro de 2009

The end

todos estam indo se tratar
se transplantar
tentar revidar a morte
num gancho de esquerda
arriscando tão descaradamente na frente dela
uns dançam
os outros não mudam jamais
resmungam
estam mais rabugentos do que nunca
os que não mudam sacam logo
esta é minha única chance
não serei borboleta, lagarta pintada, nem compensado vagabundo
faço cálculos para talvez mudar o rumo da conversa
estimativas de vidente fajuta
cartomante descartável
na verdade precisamos de um transplante
você é compatível
mas no nosso caso a doação tem de ser constante
na fila de espera
no consultório
maca
sala de cirurgia
necrotério
túmulo

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Nosferatus

me perguntaram uma vez o que carrego comigo
disse que dava para embriagar
e que podia por pra dormir qualquer um sem enjôos.
o copo estava leve sem muito liquido
e o diferencial
se nem os críticos se entendem
vou eu tentar acertar pra quê?
não, eu não estava fingindo
não estava dando uma de fraca
eu queria
aaah como eu queria
não é vaidade é vontade
vem antes que...
uso as roupas de caubóis
pensava ser irreverente com ela
mas o zíper não abre
use saias!
use batom!
make-up ajuda sim
e como...
no dia seguinte é ilário ver você procurar alguma marca no meu pescoço

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Caretas

arrume os cabelos sem muita presa
vejo as marcas que deixei
teus sinais ganharam destaques
umas partes sangram
pergunto como está as minhas
você ri e diz que qualquer coisa o sutiã cobre
não é pra todo lugar que se tira a camisa.
digo: é depende da apresentação
se pagarem bem agente até capricha.
paramos
nos olhamos
romântico
nunca pensei que chegaria a esse ponto: olhar e ri
pegar tua nuca
te acariciar
apertar
entra pelo meu peito, entra de novo, entra e não sai mais
merecias um tapa
me fazer acreditar tanto assim
eu que pensava jamais ter fé
sempre achei engraçado o feminino de ateu
agora acho graça de tudo
o pior não é rir em todo lugar
é ficar fazendo cara de gozo em todo lugar.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Letreiro

a brisa sai das águas e vem pra rua adormecida
tento passar pro rio minha história
sei que nem chego perto de seu sofrimento
mas posso demostrar muito mais e melhor
era um drink rápido
uma vontade repentina
daquelas que não se pode deixar passar
e lá do outro lado da rua
a mão que me estremecia
acariciava um ombro
que não era o meu
só foi um drink
os olhos estavam sãos
eu pedi você aceitou, me obedeceu
como se sempre o fizesse
realmente esperava o contrário
foi sem pensar
e o letreiro já anunciava a séculos tua decisão
neon vagabundo
de dia nem parecia ter nome
era galpão abandonado
de noite com lâmpadas queimadas
sabia que o aviso era pra mim
TADEU'S BEER MAN
quantas pedras teves que procurar no escaldante asfalto
para quebrar o vidro?
tens uma pontaria horrível
eu só estava na hora errada, no lugar errado
e o gole correu pela garganta
como o curso do rio
boa noite ao Gerson
pego as chaves
olho o movimento(ausencia) na rua
de casaco fechado
caminho desviando das tartarugas no chão
ignorando os semáforos
acelero sem bagagem
leve quase vou no embalo da brisa

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Segunda leitura

contarei agora o que se passou na manha de outubro
uma manha quente e abafada
lembrando um fim de dia
cansativo sem ser triste
lábios cerrados esperando a chave para liberta-los do silencio
cadeiras postas em círculos
uma possível reunião, um culto, ou qualquer outra forma de persuasão
estaria para acontecer
e poderia ate se convencer disso
se isso não fosse o habitual, o mecânico
o mesmo jeito de começar o dia
e de repente como sempre se espera que uma mudança aconteça
ele vem todo de branco
todo de preto
lilás cinza azul
neutro como a manha
para ser os amanhas
com flores e relógio
destroi o pijama favorito
roca, faz a tosa
diz que veio pra gozar na sua cara
ela entende errado e deixa
deita e rola
esquenta ainda mais o alpendre
feridas se abrem
jorrando sangue
uma mistura de cola branca com guache vermelha
quem vai dar mais por uma coisa dessas?
nem quinquilharia de porão, nem amontoado de lixo
ele ainda tem o cinto
e tu com que vais te cobris
vais ser chamada de que?
será mais um dos nomes das desgraçadas que não tiveram medo de amar.

Durvalino Couto, In "Os cacadores de Prosodia"

No instante em que te beijei no sofa, Beirute
era bombardeada. Ao nosso toque de lingua,
começou o corre-corre dos civis. Meus sentidos
estavam bem distantes daqueles voos rasantes
dos F-116. Eu via na TV depois. Mamãe estava
preocupada. Que eu não fizesse nada as filhas
alheias. Os pilotos de Israel são altamente profissionais.
Você tem um toque de amor muitíssimo estimulante.
Os pais de hoje podem sorrir do que nos acontece,
quando eles saem para seus fins de semana.
Você e novinha, mas seu sexo e um fóssil vivo,
superlativo. Que perpetua essa raça há milhões
de anos.Sexo & Sangue,densa harmonia. Eu sonhei
demais naquela tarde. E andei nu por toda a casa.
Ate chorar na lama das trincheiras, quando
a TV disse e mostrou que Beirute estava sendo arrasada.

domingo, 15 de novembro de 2009

Area de trabalho

Degringolou
penas sem o digital
sou feita de fita
enrolas e faz um bordado
sem bateria
te mato no cansaço
liquidifique
no máximo no pause no próximo
rebobine a rebinboca
tuas mãos amarelas enferrujadas
teus dedos sujos de poeira da rede
agilidade para um possível conforto
garanto
garantia certa
tiro pela maturidade fajuta das historias seculares
que acumulo em minha corcunda
mete o dedo
roda a fita, faz entrar tudo pro som poder sair
me deixe ereta de novo
dica:
se for preciso cole
novo papel de parede

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Entre batendo

quando a cor não importava
os olhos piscavam nervosos
e tudo esfumaçando
se diluindo
como o efervescente exibido como um trunfo no fim da noite
levantei fui até o garçom e quebrei a garrafa em sua cabeça
esperando punição
receita de bons modos
milhões de orações
sangue por cima do sal
ardência
não quero piedade
pode bater
o que mais me mata e me faz te querer mais
é a tua cavalheirice
ah se o "h" se calasse
adoraria ficar por baixo.



quinta-feira, 12 de novembro de 2009

huuuuuuuuum

acho que tive uma pontada

passaram rasgando em mim


aaaaaaaaaaaai


pega é aqui


vou morrer


tow meio tonta

senta aqui
é assim
deixa eu deitar aqui
nas pernas
você já leu o Kama Sutra?
ficar assim é indicar
que a lady gosta de quem está a recebendo


acho que tá voltando...
tá sentindo...

OFUSCARO

fuscaro
ofusca
é caro

Cadê meus óculos porque esse preço aqui tá errado.

Playlist

considerando as mortes que poderiam ter acontecido contigo
e tudo o mais que reclama por não ter feito
de estar cansado
de jogar sempre com a mesma estratégia
oral
frente
costas
deita
vira
fuma
dorme
acho que é teu gosto musical
acho que poderia
tentar a felicidade banal e fugaz dos trances

Convite por favor

quem ia desconfiar
de toda organização
de toda movimentação
de um lado e pro outro
quando ninguém estava por perto ou apenas distraídos
lembrando ou sonhando inventando ou fingindo
muito ocupados
o certo foi que alguém viu
viu uns restos espalhados sistematicamente
formando uma espécie de caminho
o certo é nem ligar
mas quem é que não quer fazer algo de importante
imortalizar-se
para onde vai isso?
deveria ter se perguntado
apenas foi e seguiu até chegar no ninho
no meu ninho de rato
na bagunça
e viu tudo o que trazia comigo
nunca pensei em arrumar a casa
parar
o hábito me movia
e agora como um ransinsa mando voltar
respondo que não tem ninguém
na verdade a casa tá lotada
dormir agora é o remédio perfeito
já que dinheiro nem plantas se fazem presente.

sábado, 7 de novembro de 2009

TICS - TOCS

esqueci meu número da sorte
o tanto de pulinhos na música preferida
estalar os dedos é no ímpar ou par?
tinha um carocinho na minha cabeça que sempre coçava
bater o pé bate o pé
tan tan tan tan
depois de um esbarrão
de uma marca roxa no braço
e o coração só atende por teu código

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Preguiça

canta passarinho canta
que todo teu canto serve de encanto
para o levantar leve
para o repouso da espuma
a brancura manchar
porque ser mar
ir e voltar
redemoinho de vento e água
sal e calor: suor e lágrima
tem que ter força
para na manhã poder acordar.

Na noite de óculos escuros

de longe
você passa longe da minha vontade
mas pra provar meu poder
invento coisas para assegurar a compania
não é favor
é posse
é poder segurar teu coração sem ter fome
é ver o sangue descendo pelo braço
sem querer beber
sou capitalista o bastante
pra deixar ele estragando ali no canto
me dando conta da sua presença
pelo cheiro
pelo fedor
de podridão, de desgaste
mas é pior que mocinho de anime
continua a lutar
agonizando, se rasteja
ajudo a levantar, a remover os cacos
só tem eu por perto mesmo
abaixo e te levanto
mas eu vou na frente
vendo se tem alguma coisa
que por todo esse tempo fiquei sem perceber.

domingo, 1 de novembro de 2009

Studio de Publicidade

a francesa fui tentar fazer chá
numa tarde sem programas, normal se não fosse pelo chá
minha tentativa de ser adulta o suficiente para acerta na quantidade de água
mas não acertei
fui para a janela enquanto a água fervia
os olhos buscaram você voltando ou indo
mas num feriado escutando Trouble No More
espantada com as insinuações do vapor
lembrei do perigo do sono
da fragilidade que provoca o assassinato
leveza espantosa do descanso
incompativel com minha falta de ar
como pesar e não ter peso ao mesmo tempo
é como o sachê que ainda não molhei
alivio para tormento inventado de última hora
e a melancolia se vai assim que a gravidade alcança o lençol
servido de roupa e que agora é tapete pra cozinha
e como toalha de pique nique
com pedaços de grama
e ensopada com o suco que escapou dos copos.