segunda-feira, 1 de junho de 2009

Safado

o rouco som de tua voz, os muitos arpejos de instrumentos seculares
que inflam os botes para uma viagem sem fim; é assim que me sinto sempre
quando num grupo definido saímos rumo ao bar mais próximo para discutir
e tentar validar o esforço descomunal em ganhar dinheiro.
numa cadeira de frente a minha faz o famoso gesto de jantar burguês e passa seu
coturno em minhas pernas desnudas e contornadas por um leve pano.
gesto cliché como eu na mesa na tua frente, vai ser tudo igual, a noite, dito ambiente propício para
qualquer mal se situa entre o foco do copo e teu negro olhar.
várias doses, vários goles, uns atendem o celular, outros vão ao banheiro, levanto para o acento que
se desocupa. a mesa que antes era de jantar virou mesinha de centro e eu sou teu centro nessa dança das cadeiras. o tempo diz que vai embora e fica sempre pra mais um gole.
e a perna encontra a outra e nem se estica mais, esforço guardado
para o que vem a seguir, o que sempre se segue depois de longos
jogos de sedução, depois de se cessar a brincadeira das insinuações
e revela de maneira nada convencional e sem remorsos o final da noite:
se pagares a conta a noite é despesa minha.

TEXTO: AR puro

Nenhum comentário: