domingo, 28 de março de 2010

Coador

está seco e um pouco agradável
o calor que surge não chega a cansar
não ficaremos enfastiados
apenas com marcas na ponta dos dedos
está doce
mas não tão enjoativo quanto o abuso
vai ficar no ponto
na terceira vez que passar a língua
e sentir o gosto
e por mais que não creias o fim do mundo acontecerá
os bichos nos deixaram em paz
vão correr pra longe
os vulcões estão flamejantes
ventos arrebatadores derrubaram da árvore galhos secos e cacheados
clamaremos pelo todo poderoso
num transe
e a onda vai alcançar as dobras do lençol
as dunas coloridas por canetas estouradas e pinturas apresadas
e tudo que era barulho e destruição
liquidificado em lâminas velozes
repousa em sagrado silêncio.

Duas mãos para fechar várias entradas

seus desgraçados
não sabem comer
falam de boca cheia e deixam cair a metade no chão
às formigas
engolem rápido
sem mastigar com esses dentes amarelados
papel de parede mijado e fumaçado
e quem foi que te deixou entrar aqui
sempre tranco a porta
não sabe ler não
nem pra que sofra de indigestão ou pior
não vê as figurinhas
é sem ver cara
esperando acertar o coração
coroado com buraco
saio furada

sábado, 27 de março de 2010

Pode cantar, não moro perto dele

vou tentar ser breve
e cortar o mal pela raiz

num gole rápido
sulco na garganta

vazando pela mão
limpando na camisa

vai ficar o cheiro
vão perguntar depois

"foi a brisa do mar, morena
que passou e ficou"

vou olhar torto
e com desgosto te deixar passar

Aceito!

pode ser uma palavra bonita, gestos mínimos, educação
pouca fala, engolir calmo e suave da saliva
o temor do dano
do estrago
e do barulho que pode causar
seja delicado,
não precisas se esforçar contrariamente nos desmandos de um agrado insano
as frutas parecem boas
as cores estão vivas
sem mal humor
sem pressão
sempre um domingo no parque
bem, podemos chamar isso de começo?

Nada seletivos

listas silábicas de assuntos pendentes
prefiro deixar tudo pendurado
ao alcance da vista
caso alguém entre de repente
é só o tempo da corrida
ainda bem que na porta do banheiro
a chave vem de brinde no trinco.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Sem galerias

bancando os fortes, os mais poderosos
e onde vais parar com isso, baby?
despedaçando sem coração
com os olhos fechados
mãos sujas e fedorentas
fique à espera
ouça a musiquinha do telefone
tananananananan tanananan tanananan
é lento demais
e não espera
quer andar pro nada
fingir que não é com você
quem vê pode até acreditar
mas estamos juntos, sabe disso
e eu sei que está escondendo o trunfo
vai ser um grande dia pra todos
e todos acabarão de alguma maneira
então faça sua arte

terça-feira, 2 de março de 2010

Corta essa

as notícias triste fazem rir
exames que tornam a reviver o Coliseu
o que fez ficar tudo tão estranho e insuportável
eu te pergunto
nada realmente faz sentido quando volta a ser normal
ninguém gosta de se acostumar, uma boa teoria a ser refutada esta tua
o hábito é o nosso mal, como diria o francês
e o bico que se faz segurando o choro pra que ninguém na plateia ria tão alto
que desperte de que nada deveria chegar a tanto
todos os dias acordo e faço as mesmas coisas
as vezes com a chateação de que poderia repetir tudo um pouco mais cedo
ou que talvez ninguém se importe por estar tão quieta, só respirando
os programas talvez ajudem em alguma coisa
conversar enquanto o pedido não vem
ou quando todos estão por muito tempo calados
ou pra me calar de vez
quem realmente se importa com eles
com aquelas vidas ali
a roda que se faz em volta do corpo estendido
volta a ser fila depois de tudo
dá pra se lembrar de tudo
de como se conheceram
de como se olhavam e não queriam parar de se olharem
a força pra não ri e se entregar
escutar a voz
sentir o corpo
repetir frases de amor
prometer o impossível
perceber tiques
todos os dias do mesmo lado da cama
panela destampada
cheiro de mijo
um canto para se juntar o que quiser
e depois
uma avalanche de 'verdades'
uma casa vazia
uma barriga esticando como se fosse de elástico
uma vingança em rede nacional
é teu
é teu desgraçado
e quem lembra disso
só os que ainda ficar ao redor dela e dele
os que são vizinhos
nem a retrospectiva pauta.