quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Canibal

tentando ser mais que isso tudo
ser vírus fatal
esquivando
indo pelo cheiro de sangue preso entre as veias pequeninas
preso entre as cores dos livros de escola
preso na mancha da camisa
preso no dente do tubarão
tento ser canibal
comer tua carne
refogá-la num ritual
me tornar mais forte
esparadrapo

Perder

tão barato
apostando alto em gritos malditos
esperando ver a cicatriz da infância
uma memória boa
para no futuro ser eu o afago lembrado no desespero
e numa esperança que salta num canto de pássaro
vidros cintilam minha cabeça que dói
será mais uma vez
mas uma
a última
desta vez os dados vão formar um par
plural meu pardal
eu sei que vão.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Número de telefone

falta de jeito, anotado para não esquecer
e deixar morrer num canto do quarto
submerso na poeira
ali como que num novo dia
o que foi usado e guardado volte
valha
e pela distância faça demorar mais que o previsto
pois mudaram as etiquetas
mudaram os nomes
os mortos que dão nomes às ruas são outros
e a morte pareça algo novo
e as prateleiras
e o quarto
e a parede tem outras cores
cheiro novo de algo velho
futuro do pretérito

Indecentes

e ela nem liga mais pro arrumar
horas na frente do espelho, roupas ao avesso na cama
nem em alagar demais o sorriso
em querer mal: todos estão perdoados
agradece e ri sempre com atenção
querendo que o caixa, pedreiro, carteiro dancem junto sem perguntar por nada.
não sejas mais triste
como se em seu abraço coubesse a todos
num gesto afobado
está com ele
e ele está com ela
e eles são uma casal
ele é o fulano
ela é a tal