quarta-feira, 26 de maio de 2010

Clown

do programado sempre se pode esperar um imprevisto
aquilo que foge ao ensaio
a chuva que lava o rosto coberto
hipérbole minha figura de linguagem
esteja sempre quando eu precisar
não me faça nunca ser na frase um paradoxo

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Caridade

sem tentar repetir o nada que não é novo
sem deixar nada guardado
esperando mofar
podendo ocupar outro valor
mais que aversão
doação
desinteresse
sem forças pra formalidades e delicadezas
somente finalidades
e um ponto.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Tônica

um ajuste na barra, uma viagem para conhecer minha geografia mapeando corpos
fala sem sotaque, fala para todos
é seu verbo que minha língua quer passar contraindo, conjugando
até que se torne morta, até está arquivada
como esta história que muitos não deixam morrer, que repetem e é automática
e vem as canções, os livros, religiões
repetindo tudo como se fosse novo, metáforas desesperadas para uma falta de algo, de outra mão além dessas, de mutação, de risco de morte ao deixar entrar um corpo estranho e querido, de inquietação para todos os anúncios e imagens cravados na memória e que colorem minha vida, meus domingos sem céu azul de janelas fechadas na frente da TV, sem grama pinicando as pernas, sem grana para mendigos, sem as provas de amor ritualísticas dos templos, dos cânticos, vivo sem eles, sem refrão, sem repetir febril e agitado uma saudação, não amo, não amo.
é esperar o shampoo fazer efeito, e se convencer de que talvez os meus braços não deviam estar erguidos, uma vontade imaginária de ser servida, de ser objeto conduzido, por mais que a boca vá ao lado contrário puxas em tua direção, estou sem cinto, inclinada para o pára-brisas, segurando desajeitado o suado volante, olhando pelo retrovisor esperando a buzina do carro que vem a 20 km respeitando a placa.
era pra ter mais impacto, era pra ser uma batida de um 0km prum 60km no mínimo, mas isso te fez berrar falar e mostrar de onde veio, consigo entender, falamos a mesma língua e os outros olham sem entender, mas todos estão pra ver, e o olhar talvez desperte a palavra morta.

Leituras

repito tuas palavras,
te faço imortal,
me matando de vez

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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Feminino Plural

e a sorte da frequência cair numa música nova
que faça ver desenhos no céu
que cantarole errada na espera do ônibus
e vá procurar e se deparar com um você quis dizer
mas quando me deparo com a letra
vejo um apelo
ele procura por ela
diz que ela fez isso e aquilo
e a mensagem está em todos os lugares
uns fazem diferente mas é o mesmo recado
ela deve estar longe
não deve ter chegado tão perto quanto eu
que fecho a página
e vou pra lista minha lista de reprodução

Odaxelagnia

não existiu mais tempo
só lembro do clarão e de repente meu coração para de bater
e não mais importa o que acontece
quando vens, se alguém vem
como um vendedor numa tarde ensolarada e deserta
corro
corro
como se as pernas fossem descartavéis
como se as que aparecem fossem de perfeito encaixe
mas a fome é tanta
dependo disso
e não penso nisso
sem querer quebro teu pescoço
mordo com força
arranco as cabeças
lambuzando a blusa numa pintura surrealista
e com o bastão que me matarias
espalito os dentes

terça-feira, 11 de maio de 2010

Opaca

uma noite mal dormida
um rosto sem lavar
sem café
sem pão

o trem passa do lado
num dia nublado

Terrorista

sapatos sem o lustre do zelo, poeira que opaca os olhares
o som dos pregos no chão chama mais atenção
seu suor
redesenhando o rosto como se do barro voltasse
como se voltasse a ser
e de se casaco retira do bolso interno o que fica próximo ao peito
sua bomba
que não explodi e suspende o susto que vira riso
coragem banhada com óleo e coberta com um balde cheio de penas
e a grande ave espreme nas mãos o fruto de seu mistério
tenta esconder o motivo do erro
forçando para que o número seja apresentado
como um órgão cheio de veias que prende o líquido
chorando doses severas e certeiras em uns deixando outros cegos
pobre coração stop motion 2D

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Sem dizer adeus

sem condenações estamos todos aqui a esperar
o grande espetáculo
subindo devagar e cabisbaixo os poucos degraus de madeira,
mãos contentando em ser só parte do corpo,
não se esforçando a nada, não se desgastando por pouco
enfileirado, passos curtos e lentos como se fosse isso grande esforço
e foi sim: antes boiando na gosma de sangue, pulando pro esforço de respirar e ter de se aguentar por inteiro, por muito tempo ou insuficiente pra valer a pena.
e do outro lado os que esperam sedentos de show, de gritar
sem motivos, sem lados, o que importa é ver agonizar, definhar ali, até que o cheiro venha, até que apodreça tudo.
ouço tudo calado, esperando o tempo que ora vem depressa como uma lembrança de vida, ora se faz inerte e perpetuo.
antes o que era dois, duas meias pra fazer uma entrada, dois pedidos, dois canudos divididos, um pra dois, está balançando com a corda no pescoço, na praça principal da cidade.