sexta-feira, 14 de maio de 2010

Tônica

um ajuste na barra, uma viagem para conhecer minha geografia mapeando corpos
fala sem sotaque, fala para todos
é seu verbo que minha língua quer passar contraindo, conjugando
até que se torne morta, até está arquivada
como esta história que muitos não deixam morrer, que repetem e é automática
e vem as canções, os livros, religiões
repetindo tudo como se fosse novo, metáforas desesperadas para uma falta de algo, de outra mão além dessas, de mutação, de risco de morte ao deixar entrar um corpo estranho e querido, de inquietação para todos os anúncios e imagens cravados na memória e que colorem minha vida, meus domingos sem céu azul de janelas fechadas na frente da TV, sem grama pinicando as pernas, sem grana para mendigos, sem as provas de amor ritualísticas dos templos, dos cânticos, vivo sem eles, sem refrão, sem repetir febril e agitado uma saudação, não amo, não amo.
é esperar o shampoo fazer efeito, e se convencer de que talvez os meus braços não deviam estar erguidos, uma vontade imaginária de ser servida, de ser objeto conduzido, por mais que a boca vá ao lado contrário puxas em tua direção, estou sem cinto, inclinada para o pára-brisas, segurando desajeitado o suado volante, olhando pelo retrovisor esperando a buzina do carro que vem a 20 km respeitando a placa.
era pra ter mais impacto, era pra ser uma batida de um 0km prum 60km no mínimo, mas isso te fez berrar falar e mostrar de onde veio, consigo entender, falamos a mesma língua e os outros olham sem entender, mas todos estão pra ver, e o olhar talvez desperte a palavra morta.

Um comentário:

Francisco de Sousa Vieira Filho disse...

Breviário da hora íntima...
Mas que o íntimo se nos é
Não se compartilha[mos],
nem com o outro...