quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Sede

O absoluto
o copo ficando vazio
e a atenção ter de se abrigar em outro lugar
poção mágica
cesto de peixes mutiplicados
apareçam
quem poderá me salvar?
um chafariz adornado de anjinhos mutilados
todos felizes em não procriarem
são tão gordinhos por nem praticarem
de tanto as nuvens enegrecem
e borram a aquarela
imagens sujas dentro de uma paisagem escura
o catálogo era colorido
quem mudou todo o cenário?
será uma gravação cinematográfica que toma a cidade desta forma?
espero não fazer de tudo uma apresentação
bem demarcado e encodado
que venhas com teus costumes e tradições
todos plantadinhos desde criança
todos regadinhos com amor e carinho
irei talvez colher algo
ou morrei de fome sem caçar
sem prever, sem instintos, sem sobreviver
não,
nada sobre
tudo dentro
meu copo está vazio.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Pensamento

E ela agora só pensa em sangue
nos sinônimos
nas dúvidas cruéis que lhe crispam as mãos
de quem foi a ordem para pensar tanto assim
que missão mais cruel para só uma pessoa
poderia ser descontraída
vendo a cada um como uma possibilidade de prazer leviano
pois há tanta gente
as ruas estam lotadas
o acaso clama por ela
e ela olhando as mãos
estrangulando o pensamento
vira
tenta dormir
talvez amanhã venha logo
talvez isso suma com a noite.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Capitalismo

e eu me bastava
o mundo era redondo e da cor de massinha
e ele me pergunta algo que não sei
pensa que minhas blusas são tudo o que ele quer
droga, não conheço nenhuma música dos beatles
porque eu haveria de saber?
eles nem existem mais
e não vou fingir com um corte de cabelo ou banda cover
não!
vai ter que ser assim
eu te mostro meus long plays demoníacos do povo do Mississipi
e dividimos o fone no ônibus.

Reserva

gotas congeladas de teu sangue
enchem de prazer minha mente saturada pelo vento seco das manhãs
são as marcas de teu sacrifício
de tua prova mortal
desculpa não há
o avanço da ciência serve para isso
tudo é demonstrado e provado
pilhas de papel
cartuchos usados
enquanto isso os ciganos vivem sem escrever
tudo é música
das coisas que falo em que acreditas?
na marcas de teu tocar bruto
de como se veste frente a mim
e só mim diz mostrar a violência que guarda
os números não precisam ser mostrados
estatísticas ignoradas
pago o preço e fico devendo
frases feitas sim, por mim
o frasco está esvaziando
garrafa fora do isopor
mais uma dose, por favor

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

blood, girl, blood


apertados demais eles estão
rodeados de amarras e pregas
a respiração é incomoda
e nunca se vira um corpo com tanta vontade de engolir ar
goles e goles de ar
e o tempo é contado em cada fração
na espera
muitas mesas ao redor
um pedido para distrair
muitos frascos
todos entupidos
e o seu sopro
forte como as catástrofes que desertam cidades
tai dai na minha blusa.

sábado, 6 de novembro de 2010

Sombra

sem um mínimo de jeito
descrente das habilidades
guardando os antigos hábitos
recorrendo a eles
em sua plena tensão de ser
de ser só com você
o comentário não é seu
e a bicicleta a muito no canto
atravessa a cidade
na noite de ventos raros e frios
sem o sono
sempre à espera
espera que nunca deveria acontecer
ação que nunca teria de existir
mas é como se o freio que falta
está ali para não te fazer parar
e se acaso ouses tentar
irá sangrar e o esforço da volta será maior e penoso
rápido segue
e como se o ar morto se esvai no vento
pulsando mais forte dentro do vestido
o vermelho chegava
e escorria por todos os lados.

Pedido

gritando até as cordas arrebentarem
até que a vontade supra todo o normal
e a tosse seja esperança
mais que o clamor de um milagre
e que seja como discurso: único
e o seu eco ladainha na mão das peregrinas
que repetem o idioma secreto dos desejos
eu só te peço isso: escuta

sábado, 30 de outubro de 2010

Suor

deixe o vento entrar
para não morfar
estragar as cores lindas
descole o hi-tech
tire o capacete astronauta
e conheça marte
seremos marte
de tanto esfregar
como a lavadeira
não a elétrica
mas a que canta
a que deixa a água molhar.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sono

e agora eu soluço
engolindo aos poucos
e tentando não mais preservar
sem deixar limpo e arrumado
abrindo a janela pra poeira rodopiar pelos cantos
vejo a calça manchada, e os pingos no chão
poderia ter sido pior com o calor que faz,
mas o suor não me incomoda
com a claridade vejo minhas mãos: o esmalte descascado
lutando contra a marquinha branca de mentira
esfrego os lábios
a paciência no arrumar
agora se reveste em lentidão idosa
como uma transformação
que exige adaptação e reconhecimento
sem nenhum registro do mundo, sem nenhuma notícia trágica
só relatos pseudo biográfico de moribundos que rondam as paredes
que enchem o quarto de cupim
e trazem um cheiro agradável.

domingo, 17 de outubro de 2010

Nana, Kundera, Chinaski

de ilusão se enche um balão
e o placar marca 1x0
o problema em ganhar não existe quando o que importa é o que lembrarão de mim
talvez amar seja não esquecer, e querer que lembrança seja boa,
difícil, fácil, clichê ou não
isso são palavras pra formar um roteiro pra milhões
distinto de tudo o que é
o fracasso passa pelas mãos quando a cena desejada se desfaz no espelho, no lago profundo
inflando e arrancando os pêlos, mas o desejo não é esse...
próximo cartaz a ser printado
e o Brasil goleia a República Tcheca
e tento decifrar partituras de um lado do mundo que se parte e se junta
que ama gregos e troianos, que dialoga com meu coração
acordos são feitos e refeitos, compadeço diante de tantas afirmações minhas e de que talvez reflitam minhas vontades
e quanto a mentira e a dúvida não existe espaço, existe o fato e o que vem depois é história, é memória
vai ficar nos arquivos
por mais quem isto não tenha sido o emprego dos sonhos, a cidade dos sonhos, o amor dos sonhos
isso foi tudo o que fiz.
dos elogios tudo encaixa, velha maneira de se safar,
sem açúcar e sem gelo, puro por favor
mas quanto a fórmula e ao esperado, descarto pra fora e deixo que vençam a partida
que mudem o nome do país duas três vezes, que me façam ser chamada de várias coisas, que a linha imaginária diga quem eu sou e até onde deva ir, que leve tudo isso muito sério, deixem que tudo realmente não escape à lógica.
sigo tautológica,
nas redes de conveniência, nos perfis, fazendo cadastro
e rindo muito, fazendo prum, errando os nomes
e os garotos passam sem camisa pela porta do prédio e o jogo termina e desligo a TV e abro a janela.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Canibal

tentando ser mais que isso tudo
ser vírus fatal
esquivando
indo pelo cheiro de sangue preso entre as veias pequeninas
preso entre as cores dos livros de escola
preso na mancha da camisa
preso no dente do tubarão
tento ser canibal
comer tua carne
refogá-la num ritual
me tornar mais forte
esparadrapo

Perder

tão barato
apostando alto em gritos malditos
esperando ver a cicatriz da infância
uma memória boa
para no futuro ser eu o afago lembrado no desespero
e numa esperança que salta num canto de pássaro
vidros cintilam minha cabeça que dói
será mais uma vez
mas uma
a última
desta vez os dados vão formar um par
plural meu pardal
eu sei que vão.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Número de telefone

falta de jeito, anotado para não esquecer
e deixar morrer num canto do quarto
submerso na poeira
ali como que num novo dia
o que foi usado e guardado volte
valha
e pela distância faça demorar mais que o previsto
pois mudaram as etiquetas
mudaram os nomes
os mortos que dão nomes às ruas são outros
e a morte pareça algo novo
e as prateleiras
e o quarto
e a parede tem outras cores
cheiro novo de algo velho
futuro do pretérito

Indecentes

e ela nem liga mais pro arrumar
horas na frente do espelho, roupas ao avesso na cama
nem em alagar demais o sorriso
em querer mal: todos estão perdoados
agradece e ri sempre com atenção
querendo que o caixa, pedreiro, carteiro dancem junto sem perguntar por nada.
não sejas mais triste
como se em seu abraço coubesse a todos
num gesto afobado
está com ele
e ele está com ela
e eles são uma casal
ele é o fulano
ela é a tal

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Luz dos olhos


sol de novo...




....mais uma pose pra foto

Aguçado

e ela tenta manter tudo novo
misturando as cores
fazendo craquelado
usando os reciclados
seus olhos movem tudo para dentro
está longe
seu exagero é a medida
borrada
a borracha desfaz o desenho
e agora ela está longe
e tudo está embaçado
vai ter que apelar para os outros sentidos
vai ter que perturbar alguém
vai exigir atenção
vai manchar alguém.

sexta-feira, 25 de junho de 2010


e vai sendo assim
a vida como ela não é
sem a trilha sonora no fundo
nada cinematográfico
nada bibliográfico de verdade
sem holocaustos
e fugas supreendentes
só um bando de frases dos outros
frase de gente morta
que iriam rir de tudo que faço
de como finjo estar e de como tudo está
e do lado um braço quente e vivo
que não diz nada
que me sufoca
apagando as referências
as notas e citações em artigo

Cruzar os dedos

o tempo de uma corrida
a aposta jogada pra dentro do bolso
encapuzada no hábito
e a presa faz sentir
suor alagando o corpo
deixando tudo boiar
e no instante que ele pisca
ela o vê de olhos fechados
e acredita naquilo
e ele termina de arder abrindo
eles se olham sem saber direito
se há concentração
não é de verdade
mais um aposta
mais uma distração
um jogo vicioso de máquina de azar

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Clown

do programado sempre se pode esperar um imprevisto
aquilo que foge ao ensaio
a chuva que lava o rosto coberto
hipérbole minha figura de linguagem
esteja sempre quando eu precisar
não me faça nunca ser na frase um paradoxo

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Caridade

sem tentar repetir o nada que não é novo
sem deixar nada guardado
esperando mofar
podendo ocupar outro valor
mais que aversão
doação
desinteresse
sem forças pra formalidades e delicadezas
somente finalidades
e um ponto.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Tônica

um ajuste na barra, uma viagem para conhecer minha geografia mapeando corpos
fala sem sotaque, fala para todos
é seu verbo que minha língua quer passar contraindo, conjugando
até que se torne morta, até está arquivada
como esta história que muitos não deixam morrer, que repetem e é automática
e vem as canções, os livros, religiões
repetindo tudo como se fosse novo, metáforas desesperadas para uma falta de algo, de outra mão além dessas, de mutação, de risco de morte ao deixar entrar um corpo estranho e querido, de inquietação para todos os anúncios e imagens cravados na memória e que colorem minha vida, meus domingos sem céu azul de janelas fechadas na frente da TV, sem grama pinicando as pernas, sem grana para mendigos, sem as provas de amor ritualísticas dos templos, dos cânticos, vivo sem eles, sem refrão, sem repetir febril e agitado uma saudação, não amo, não amo.
é esperar o shampoo fazer efeito, e se convencer de que talvez os meus braços não deviam estar erguidos, uma vontade imaginária de ser servida, de ser objeto conduzido, por mais que a boca vá ao lado contrário puxas em tua direção, estou sem cinto, inclinada para o pára-brisas, segurando desajeitado o suado volante, olhando pelo retrovisor esperando a buzina do carro que vem a 20 km respeitando a placa.
era pra ter mais impacto, era pra ser uma batida de um 0km prum 60km no mínimo, mas isso te fez berrar falar e mostrar de onde veio, consigo entender, falamos a mesma língua e os outros olham sem entender, mas todos estão pra ver, e o olhar talvez desperte a palavra morta.

Leituras

repito tuas palavras,
te faço imortal,
me matando de vez

X|

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Feminino Plural

e a sorte da frequência cair numa música nova
que faça ver desenhos no céu
que cantarole errada na espera do ônibus
e vá procurar e se deparar com um você quis dizer
mas quando me deparo com a letra
vejo um apelo
ele procura por ela
diz que ela fez isso e aquilo
e a mensagem está em todos os lugares
uns fazem diferente mas é o mesmo recado
ela deve estar longe
não deve ter chegado tão perto quanto eu
que fecho a página
e vou pra lista minha lista de reprodução

Odaxelagnia

não existiu mais tempo
só lembro do clarão e de repente meu coração para de bater
e não mais importa o que acontece
quando vens, se alguém vem
como um vendedor numa tarde ensolarada e deserta
corro
corro
como se as pernas fossem descartavéis
como se as que aparecem fossem de perfeito encaixe
mas a fome é tanta
dependo disso
e não penso nisso
sem querer quebro teu pescoço
mordo com força
arranco as cabeças
lambuzando a blusa numa pintura surrealista
e com o bastão que me matarias
espalito os dentes

terça-feira, 11 de maio de 2010

Opaca

uma noite mal dormida
um rosto sem lavar
sem café
sem pão

o trem passa do lado
num dia nublado

Terrorista

sapatos sem o lustre do zelo, poeira que opaca os olhares
o som dos pregos no chão chama mais atenção
seu suor
redesenhando o rosto como se do barro voltasse
como se voltasse a ser
e de se casaco retira do bolso interno o que fica próximo ao peito
sua bomba
que não explodi e suspende o susto que vira riso
coragem banhada com óleo e coberta com um balde cheio de penas
e a grande ave espreme nas mãos o fruto de seu mistério
tenta esconder o motivo do erro
forçando para que o número seja apresentado
como um órgão cheio de veias que prende o líquido
chorando doses severas e certeiras em uns deixando outros cegos
pobre coração stop motion 2D

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Sem dizer adeus

sem condenações estamos todos aqui a esperar
o grande espetáculo
subindo devagar e cabisbaixo os poucos degraus de madeira,
mãos contentando em ser só parte do corpo,
não se esforçando a nada, não se desgastando por pouco
enfileirado, passos curtos e lentos como se fosse isso grande esforço
e foi sim: antes boiando na gosma de sangue, pulando pro esforço de respirar e ter de se aguentar por inteiro, por muito tempo ou insuficiente pra valer a pena.
e do outro lado os que esperam sedentos de show, de gritar
sem motivos, sem lados, o que importa é ver agonizar, definhar ali, até que o cheiro venha, até que apodreça tudo.
ouço tudo calado, esperando o tempo que ora vem depressa como uma lembrança de vida, ora se faz inerte e perpetuo.
antes o que era dois, duas meias pra fazer uma entrada, dois pedidos, dois canudos divididos, um pra dois, está balançando com a corda no pescoço, na praça principal da cidade.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Alcunha de batismo

de antônimo
estou cheia de mundo
cisco no olho


não tem substantivo que lembre José?

Confia mais em quem?

de ditado

letra borrada
vira causo

mentira sua!

Som

até o meio dia repouso de balaio, numa cesta bem enfeitada
sem mais preocupações, além do calor e suor esperados
respirando com força, movimentando o estômago cheio e
esticado na toalha, no alto as folhas que ainda vão cair
de que tanto esqueço, de que tanto ignoro
e que faz abrir os olhos para se dar conta dos milagres em volta
frutas podres perto dos pés
nuvens cinza claro
a muito não chove
a muito não choro
e as cores da infância, as do caderno de desenho se desmancham na minha frente
entre o piscar mais lento e pesado
poderia esquecer a enchada e a pá
elas me fazem prestar mais atenção e ser mais paciente
lembrar pra onde tenho de voltar
que por mais que as fotos sejam tiradas
a porta vai bater na minha cara e não me deixar mais passar
baterias mortas
músicas mortas
e vento e folha e celular a tocar

domingo, 25 de abril de 2010

Não te amo

aaaargh
não tem cheiro mais fede
não tem gosto mas estraga a vontade de degustar


não gosto de nada disso

o que gosto é de não ter nada empatando minha mão ao deslizar em algo curvilíneo.

Sexta marcha

na alinha de partida com a camisa na mão
euforia de nascer
se engasgando com tudo
os passos vão em saltos cadenciados num ritmo desconhecido
desfaça a mesa e jogue a comida fora
a fome é outra
bem mais que os carros e as apostas furadas
em cada motorista decadente um desejo egoísta de poder acabar com todos
de não querer ninguém
mas a minha aposta é outra: é a do carona
envenenando o caminho incinerando as folhas do jardim de passeio
vamos ir baby, neste dia mundial do tédio fazer o vento soprar
e derrubar as cercas e mostrar tudo aquilo escondido na moita
o bichinho de estimação não está no sofá
ele fugiu
vamos atrás dele
e ficar um pouco por lá
não vai dar tempo pra ninguém vir atrás estaremos sós
sem sinalizadores
já tenho o bastante para fazer estrelas brilharem na altura do chão.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Carimbado!

cheia de frases feitas
refrão de música popular
sentada num canto esperando passar
será se passa?
ninguém pergunta nada
então estou sabendo disfarçar
andando devagar
de tanto fazer já é meu
recolhendo as sementes para que não se espalhe
para poupar esta babaquice
que começa com um quero e vai sem querer.

Na minha a tua ferida

essa a vida que eu quero,
querida

encostar na minha
a tua ferida

Paulo Leminski


Menos um

está se repetindo estamos nos repetindo
virando alvo fácil
atitudes previsíveis
fugir?
correr?
podemos correr até ficar sem ar
se cansando só de pensar
mas nunca mais corremos sempre calmos e deixando a oportunidade passar
certos de que outra virá...
...mas hoje estou de saia!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Layout

corte mais curto para parecer forte como se todas as mudanças fossem o suficiente a te deixar mais violento, mais vivo, mais presente menos passado, e aquela que antes te diferenciava e marcava, agora vai embora, forçando uma nova vista, uma nova força pra marcar o novo, eles não precisavam disso, nem queriam isso, estava tudo no lugar, tudo calmo e previsível, se algo desaparecesse iria calado. nem o vento sopraria mais forte, o vento espalhou as folhas e não balançou teus cabelos, ele não coube na previsão, como a chuva que cai de repente na tarde em que todos estam deitados na grama, os sentidos voltaram a existir, sem a dormência dos anos, sem espaço entre a camisa e o pescoço, as unhas rapidamente encontram o couro e como tudo que é recente com um pouco de cabelo nas mãos.

sábado, 17 de abril de 2010

Longe

e era um rumo qualquer como se tudo que vai ser não devesse chegar nunca, na precisa caminhada o ponto de chegada talvez não exista, desejamos isso, desejamos estar ali lado a lado, tomando a rua infestada de carros esnobes e indiferentes a si mesmos. Estamos alados, inflando, guardando fôlego, engolindo ar. Fomos crescendo, a cada passo, a cada gole de suor que escorria pesando a camisa e desacelerando o passo. Mas a batida tá forte ninguém quer que o show termine, que a multidão se dissipe. Sem eterno retorno, sem voltar, é só seguir e continuar. Distraídos sem sombra de lembranças. A carta esperada some, a comida no prato esfria, lençóis secos.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Acione um verbo

espalitar os dentes é uma arte
que é tema de série de etiqueta
de como se faz na frente dos outros
não quero que me vejas em tudo que faço
nem quero mudar a forma de fazer pelo programa da TV

partas tudo
o pão, sua volta, meu coração
deixei fazer
o como é seu.

domingo, 28 de março de 2010

Coador

está seco e um pouco agradável
o calor que surge não chega a cansar
não ficaremos enfastiados
apenas com marcas na ponta dos dedos
está doce
mas não tão enjoativo quanto o abuso
vai ficar no ponto
na terceira vez que passar a língua
e sentir o gosto
e por mais que não creias o fim do mundo acontecerá
os bichos nos deixaram em paz
vão correr pra longe
os vulcões estão flamejantes
ventos arrebatadores derrubaram da árvore galhos secos e cacheados
clamaremos pelo todo poderoso
num transe
e a onda vai alcançar as dobras do lençol
as dunas coloridas por canetas estouradas e pinturas apresadas
e tudo que era barulho e destruição
liquidificado em lâminas velozes
repousa em sagrado silêncio.

Duas mãos para fechar várias entradas

seus desgraçados
não sabem comer
falam de boca cheia e deixam cair a metade no chão
às formigas
engolem rápido
sem mastigar com esses dentes amarelados
papel de parede mijado e fumaçado
e quem foi que te deixou entrar aqui
sempre tranco a porta
não sabe ler não
nem pra que sofra de indigestão ou pior
não vê as figurinhas
é sem ver cara
esperando acertar o coração
coroado com buraco
saio furada

sábado, 27 de março de 2010

Pode cantar, não moro perto dele

vou tentar ser breve
e cortar o mal pela raiz

num gole rápido
sulco na garganta

vazando pela mão
limpando na camisa

vai ficar o cheiro
vão perguntar depois

"foi a brisa do mar, morena
que passou e ficou"

vou olhar torto
e com desgosto te deixar passar

Aceito!

pode ser uma palavra bonita, gestos mínimos, educação
pouca fala, engolir calmo e suave da saliva
o temor do dano
do estrago
e do barulho que pode causar
seja delicado,
não precisas se esforçar contrariamente nos desmandos de um agrado insano
as frutas parecem boas
as cores estão vivas
sem mal humor
sem pressão
sempre um domingo no parque
bem, podemos chamar isso de começo?

Nada seletivos

listas silábicas de assuntos pendentes
prefiro deixar tudo pendurado
ao alcance da vista
caso alguém entre de repente
é só o tempo da corrida
ainda bem que na porta do banheiro
a chave vem de brinde no trinco.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Sem galerias

bancando os fortes, os mais poderosos
e onde vais parar com isso, baby?
despedaçando sem coração
com os olhos fechados
mãos sujas e fedorentas
fique à espera
ouça a musiquinha do telefone
tananananananan tanananan tanananan
é lento demais
e não espera
quer andar pro nada
fingir que não é com você
quem vê pode até acreditar
mas estamos juntos, sabe disso
e eu sei que está escondendo o trunfo
vai ser um grande dia pra todos
e todos acabarão de alguma maneira
então faça sua arte

terça-feira, 2 de março de 2010

Corta essa

as notícias triste fazem rir
exames que tornam a reviver o Coliseu
o que fez ficar tudo tão estranho e insuportável
eu te pergunto
nada realmente faz sentido quando volta a ser normal
ninguém gosta de se acostumar, uma boa teoria a ser refutada esta tua
o hábito é o nosso mal, como diria o francês
e o bico que se faz segurando o choro pra que ninguém na plateia ria tão alto
que desperte de que nada deveria chegar a tanto
todos os dias acordo e faço as mesmas coisas
as vezes com a chateação de que poderia repetir tudo um pouco mais cedo
ou que talvez ninguém se importe por estar tão quieta, só respirando
os programas talvez ajudem em alguma coisa
conversar enquanto o pedido não vem
ou quando todos estão por muito tempo calados
ou pra me calar de vez
quem realmente se importa com eles
com aquelas vidas ali
a roda que se faz em volta do corpo estendido
volta a ser fila depois de tudo
dá pra se lembrar de tudo
de como se conheceram
de como se olhavam e não queriam parar de se olharem
a força pra não ri e se entregar
escutar a voz
sentir o corpo
repetir frases de amor
prometer o impossível
perceber tiques
todos os dias do mesmo lado da cama
panela destampada
cheiro de mijo
um canto para se juntar o que quiser
e depois
uma avalanche de 'verdades'
uma casa vazia
uma barriga esticando como se fosse de elástico
uma vingança em rede nacional
é teu
é teu desgraçado
e quem lembra disso
só os que ainda ficar ao redor dela e dele
os que são vizinhos
nem a retrospectiva pauta.